Os dias se passam, e não amenizam a dor, ou o arrependimento. Sente falta de seu toque, do seu cheiro. Tudo que está relacionado a sua presença.
Seu corpo, insiste em perguntar por ela, vazio e oco.
Seu coração, insiste em apontar na direção daqueles olhos grandes, negros e brilhosos, como quem diz: “Ligue, diga pra ela abrir o portão”.
Seu cérebro não consegue separar a dor, para dar liberdade ao raciocínio, o canguru, desbotado, ja não esconde com perfeição a casca oca que cobre.
A vê em tudo, o tempo todo. Queria poder mandar “bom dia”, em mensagens no celular, ou responder as dela, no seu. Contar as inúmeras vezes em que pensa: "Ela gostaria de saber disso" ou "Preciso compartilhar com ela". Queria poder reclamar pra ela, sobre o transporte publico, por exemplo, sabendo que nada mudaria assim, mas que ao menos, poderia ler as doces palavras digitadas, enquanto enfrentava o caos do caminho de volta pra casa. Deseja saber como ela está, o que fez, o que comeu, quais seus planos pro final de semana.
Seu rumo, é ela, que parece estar há anos luz dele.
Queria contar cada trecho que achou sensacional, os personagens (Principalmente aquele que lembra um anjo numa casca de um humano, d’uma série que ela gosta) e como é, no geral, o primeiro livro de “uma trilogia de cinco”. O guia do mochileiro das galáxias.
Queria poder dividir o canto do sofá, ou qualquer lugar onde estaria ao seu lado, para assistir os filmes que indicaram e ele baixou.
Tudo é tão sem graça, sem ela. Tudo que antes parecia uma visão de um caleidoscópio, agora era um mangá, originalmente tedioso.
Quanta dor é possível suportar, quando ela já não consegue estar abrigada no seu peito e passa ao seu corpo, sua mente? Parece impossível suportar o insuportável, até que você se encontre em tal posição, vendo que é isso que lhe resta. Sobreviver, ao invés de viver.
Em meio aos dias cinzas, das nuvens escuras, densas, seu coração insiste em faze-lo acreditar que ela aparecera como um sol, entre essa sombriedade.
Era tudo tão belo, mesmo nos dias mais feios, era tão elegantes, mesmo nos momentos cafonas.
Erros após erros, e as vezes pensa como já não tinha isso acontecido, como ela já não tinha ido embora, pois mulher não deve ser tratada como ele a tratava, tampouco ela. Se pudesse, faria tudo, que precisasse, diferente, daria valor pra qualquer coisa, mesmo que um ato insignificante. Sente saudades até de suas colisões involuntárias da cabeça na parede.
Estaria submetido a viver, vendo seu lindo e reluzente rosto somente por fotos? Através de atualizações em redes sociais? Parece ser um consequências justa e infinitamente dolorosa, que ele conscientemente aceita.
Vai espera-la, pelo tempo que for, por quantas vidas viver, só o amor, supera tudo.
“Assim como o ar me parece vital
Onde quer que eu vá o que quer que eu faça
Sem você não tem graça”