Pesquisar este blog

sábado, 28 de janeiro de 2017

Canguru

Não é fácil esconder sua dor, fingir que tudo está indo bem, sabendo que longe disso está. 
O pensamento de como será a noite de sábado, tomou sua mente nos últimos dias. Sair sem ela já era estranho, desconfortável, ir para um show, onde jamais foi só? Impossível imaginar, acredite, ele tentou. Também tentou recordar a ultima vez que esteve sozinho em shows, não lembrou. Sua memória não ajudara, pior ainda depois de tanto tempo. Sabia que haviam dois caminhos a seguir, o da "liberdade" de poder fazer o que quisesse, ficar onde bem entendesse, beber o quanto aguentasse. Ou o da solidão, de se sentir só, em meio a tanta gente, de não ouvir nada, em meio a tanto barulho, e saber que em meio a tantos pares de mãos, o único que queria sentir não estaria lá. Dentre esses caminhos, o primeiro, reflete boa parte da sua vida, que consiste em fingir que tudo está bem, e não querer enxergar o que sabe que está errado, a ilusão. No segundo, a aceitação, o processo de sofrimento, ligado ao de mudança, encarar a realidade de como será tudo daqui pra frente, de ver todo mundo, e não vê-la, é estar sozinho, em meio a multidão.
Não é fácil ser o canguru, tentar sorrir e responder "sim" quando perguntam se está tudo bem, tentar fazer piadas "não prontas" nos momentos oportunos. "Só vão saber da minha dor, quando eu não aguentar mais", pensou. Impossível, pois seu abrigo dentro do marsupial forte, imponente, não esconde a tristeza que carrega no olhar.
Pensou que veria duas de suas grandes amigas, duas que sempre a apoiaram, e são mais duas testemunhas de como ele a tratava mal. Pensaria elas que foi bem feito? merecido? que aquele olhar distante, vazio que ele carrega é um fardo justo?. Ou lamentariam? desejariam que fosse diferente? Nunca saberá.

No caminho de volta pra casa do trabalho na sexta-feira, encontrou sua irmã no trem, também voltando, encontro que ocasionalmente acontecia uma ou duas vezes por semana. Junto a ela, uma amiga, desde a época da faculdade, trabalham juntas. O assunto entre elas, é sempre o mesmo: trabalho e casamento. O de sua irmã estava marcado para setembro. Ele foi convidado a padrinho, junto com ela, madrinha. Quieto, e econômico nas palavras, apenas respondia o que lhe era direcionado. Como quando a amiga de sua irmã, o questionou se estava preparado para ser padrinho, respondeu que ainda tinha tempo para estar, a amiga de sua irmã retrucou, dizendo que o tempo passa rápido, e que logo, ele seria cobrado para casar. Ela não sabia, sua irmão não havia lhe falado. Acho que é isso que chamam de gafe. Para ele, dor, forte. O clima pesou, ainda mais.

Na sexta-feira a noite, nada que tentara fazer para esquivar seus pensamentos dela dava resultados, então desistiu de tentar, e colocou para assistir, o filme que ela indicou, quase desistiu quando descobriu o tratamento que o filme abordava, de apagar a pessoa desejada de sua memória, mas resistiu, só pra ver como acabaria, acabou com ele.

Ao menos distraiu-se de tentar contato, ele gostaria muito disso. Pensou que não seria má ideia se ela viesse questionar algo, via mensagem, que seja. Ao menos falaria com ela.

Foi se arrumar para sair, ser novamente o canguru.